domingo, 1 de fevereiro de 2009

Sobre Baile Flamenco e Academias em Sevilha

por Tatiana Guedes

Acabo de ler um livro cujo título é "El baile flamenco: una aproximación histórica", de José Luis Navarro e Eulália Pablo. É um livro bastante simples, mas que em linhas gerais vai contando um pouco da história do baile flamenco, das influências mais marcantes na sua concepção e como todas essas misturas culturais e riqueza histórica que eram presentes na terra andaluza e espanhola desde antes do século XV foram ajudando a construir o que conhecemos hoje como a dança flamenca.
Sabe-se que a dança flamenca adquire uma forma mais definida e começa a ser reconhecida como expressão artística importante no século XIX com os "Cafés Cantantes" que abriram em toda Espanha e que eram uma versão espanhola dos Cafés Chantants franceses. Entretanto, muito antes desse momento histórico o baile começava em embrião a receber influências dos que chegavam dos portos de Cádiz como os escravos africanos, quando Sevilha era importante centro de tráfico de escravos, e também daqueles como os ciganos, por exemplo, que com suas "trupes familiares" ficavam por um tempo para tentar ganhar dinheiro com apresentações em casas de senhores ricos da época. Ou seja, além das danças típicas, festeiras sempre presentes no cotidiano das festas espanholas, tanto negros como ciganos influenciaram nos movimentos corporais da dança flamenca.
Segundo o livro, os negros trouxeram danças dos seus países africanos como o Manguidoy ou a Zarabamda que acrescentaram ao baile flamenco movimentos de cadeira, cintura e tronco. Existem documentos sobre festas de escravos que datam de 1464 em Jerez de la Frontera e final do século XVI em Sevilha. Quando enfim no século XIX chega o Tango, conhecido na época com Tango de Negros, que chega de Cuba e se torna sucesso em toda Espanha.
Já os ciganos, existem documentos sobre sua presença em Andaluzia desde o século XV. Eles acrescentaram à dança flamenca tipos de percussão como os pandeiros, tamboris, e principalmente desenvolveram uma maneira de dançar muito enfocada no sapateado, nos giros e na expressão facial. Os palos "Zapateado", "Seguidillas" (que hoje em dia são as Sevilhanas) e o "Romance", por exemplo, são estilos que os ciganos desenvolveram e ficaram associados como bailes de ciganos na época.
O que pretendo com esse resumo histórico sobre a dança flamenca é tentar mostrar que de alguma maneira Sevilha foi um ateliê que permitiu a criação de diferentes estilos dentro dessa dança e congregou diversos grupos étnicos, os quais influenciaram de maneira direta a forma de dançar flamenco atualmente. E aí começamos com as academias de flamenco de Sevilha.
Chegar em Sevilha e escolher aonde estudar flamenco é tarefa difícil e ao mesmo tempo prazerosa porque na cidade existem uma infinidade de bons professores com estilos e didáticas completamente diferentes entre si. Uns são mais "modernosos", outros ciganos, com um tipo de flamenco mais racial, com remates e chamadas fortes, existem os que misturam estilos, e aqueles que pedem para exagerar no movimento de cadeiras e aqueles que proíbem sua utilização, uns com braços mais redondos e outros com braços mais esticados, e assim por diante. De repente o aluno bailaor pode ficar confundido em um momento e não saber muito bem qual estilo seguir ou qual estilo seria o mais acertado.
No entanto, penso que o caminho para escolher uma academia ou professor para aprender a dança flamenca nada mais é que o caminho do sentimento, daquilo que você sente que é a verdade dentro do flamenco ou aquele estilo pelo qual você quer expressar o seu eu e o que está ao seu redor. É uma falácia ficar discutindo (como muitos fazem) sobre qual é o flamenco verdadeiro ou divagando sobre "flamenco puro" ou "flamenco fusão", isso só são caixinhas que fazem talvez o interlocutor dessas insensatezes sentir-se mais seguro.
Todos os estilos (se bem executados) estão corretos e todos são muito flamencos. Penso obviamente que é de bom tom tentar conseguir um conhecimento mais amplo da dança flamenca, não saber somente de um estilo ou de algumas tendências de baile. Ter consciência da ampla gama de estilos e da dificuldade que cada um possui é um acertado passo para depois escolher o próprio e desenvolvê-lo. Mas diante de toda essa história de misturas e de pessoas que pisaram aqui e fizeram do baile uma dança rica em códigos e elementos, só podemos ter muito respeito e reverência a todos os profissionais dessa arte, É chegar em Sevilha, buscar uma escola e aproveitar ao máximo.
Para exemplificar, sugiro dois vídeos de duas bailaoras-professoras bastante conhecidas aqui em Sevilha e que tem estilos muito diferentes entre si. Juana Amaya, bailaora cigana, de Morón de la Frontera (província de Sevilha) e Isabel Bayón, ex- aluna de Matilde Coral e ex-bailarina da Companhia Andaluza de Flamenco, de Sevilha capital. Com esses dois exemplos se pode visualizar as influências étnicas nos seus movimentos.

2 comentários:

Luísa Gonçalves disse...

Olá! Muito legal o seu blog! Eu acabo de me mudar pra sevilla (intercambio) e estou querendo muito ter aulas de flamenco! também fiz um blog pra contar das coisas daqui olha:
http://tremnoturnoprasevilha.blospot.com

beijos!

Luísa Gonçalves disse...

Olá! Muito legal o seu blog! Eu acabo de me mudar pra sevilla (intercambio) e estou querendo muito ter aulas de flamenco! também fiz um blog pra contar das coisas daqui olha:
http://tremnoturnoprasevilha.blospot.com

beijos!